desatinos e regalos

Umas das coisas mais emocionantes na arte de cozinhar é que nunca conseguimos prever de forma exacta e precisa o resultado final.
Não é que seja tudo uma pequena surpresa, mas na verdade, o resultado final de um prato confeccionado depende de diversas variáveis que interferem de forma diferente de cada vez que nos debruçamos sobre o fogão, os tachos e as colheres de pau. Assim, a composição alquímica de cada prato é o produto, não só da frescura e pureza dos alimentos e da qualidade e quantidade dos condimentos, mas também do investimento emocional que colocamos na confecção das iguarias, ou seja, da dose de amor ou paciência com que combinamos os ingredientes e envolvemos os preparados.
Tudo isto para dizer, que às vezes os resultados são fantásticos, um regalo para as papilas gustativas, e outras vezes desastrosos. Ou um desatino apenas. Porque com o tempo e a experiência também já não deixamos a coisa descambar muito e rapidamente nos apercebemos que o desfecho não é o esperado. Aí, pegamos nos nossos perlim-pim-pim… e transforma-se uma catástrofe numa coisa comestível.
Esta semana já me aconteceram as duas coisas. A desdita foram uns Falafel que se desfizeram mal os deitei na frigideira; e tiveram que ser remediados com um ovo batido e duas colheres de farinha, transformando-se em pastéis (de bacalhau) de grão. A surpresa da semana foi as espetadas de peru com legumes. Mais houvesse, mais se comia…E apetecia que nunca acabassem, para amanhã podermos repetir a mesma dose.

PUBLICADO EM: JORNAL TRIBUNA DE MACAU, a 21 de Janeiro de 2011
 

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