comer com prazer ou comer por prazer

PUBLICADO EM: JORNAL TRIBUNA DE MACAU, a 18 de Junho de 2010















Ultrapassando o habitual preconceito de que o que é bom sabe mal e o que é mau sabe bem, há que desmistificar esta coisa do prazer associado à alimentação.
A alimentação é uma das necessidades básicas/ fisiológicas do ser humano, tal como o dormir, privados dos quais não sobreviveremos. Já o prazer é uma construção humana que faz parte das coisas que se adquiriram ao longo da nossa evolução. E que, infelizmente, assume um papel cada vez mais preponderante nas nossas vidas, adulterando valores e transformando necessidades em desejos e desejos em necessidades.
Existe uma clara distinção entre o comer com prazer e o comer por prazer, e é preciso termos a noção clara desta disparidade para bem da nossa saúde física e mental.
Comer com prazer é apreciar os alimentos e o seu sabor particular, é também escolher cada um deles e prepará-los com carinho, a pensar naqueles que vão ingeri-los. Comer com prazer é mastigar e saborear os alimentos como fonte de sustento e abastecedores de energia para o nosso corpo. Por isso, aquele que come com prazer consegue apreciar os alimentos no seu estado mais natural, e tem, consciente ou inconscientemente, a noção da sua função e dos seus reais efeitos.
Já o comer por prazer é comer pelo acto em si, pela satisfação de desejos e da necessidade de satisfação. Comummente quem come por prazer associa também a alimentação a estados de humor. E é aqui que se encaixa a eterna problemática da obesidade ou excesso de peso e das dietas. No primeiro caso, o que acontece é que o prazer nem sempre fica satisfeito ao mesmo tempo que a necessidade fisiológica (normalmente o prazer é uma coisa mais complexa de satisfazer e que depende de estados mentais igualmente complexos). Já as dietas, por serem a verdadeira privação do prazer de comer, a maior parte delas não resulta e não podem ser mantidas ad-eternum.
Ora, dai que seja tempo de criar uma nova relação com os alimentos e com a alimentação, dai que seja tempo de repensar o nosso prato como fonte de energia e não fonte de prazer, de voltar à frugalidade da alimentação e deixar de lado a luxúria alimentar à mesa, pelo menos no dia-a-dia, na nossa casa.

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